quarta-feira, 28 de abril de 2010

Aleppo - dia 2

Ontem, na viagem de onibus, dormi todo torto e acordei com uma dorzinha nas costas. Ai, hoje, dormindo na horizontal numa boa cama.. durante a noite a dor foi crescendo e acordei com dor nas costas. Beleza, tentando fazer movimentos suaves e relaxar.

Tomamos cafe na rua (vitamina mais pao com queijo) e fomos averiguar onde pegar onibus amanha. Uma aventura ir de um lugar pro outro perguntando. Um cara escreveu 'eu quero ir pra XXXX'(esqueci o nome da cidade.. e' complexo!). Achamos. Em seguida, fomos ver uma mesquita enorme. Esta em construcao: ' porque Allah e' grande', respondeu um jovem universitario em um cafe, que nos deu o cafe de graca por ter simpatizado conosco.

Vamos ate o bairro cristao para ver as igrejas e um museu de tradicoes populares. Na igreja ortodoxa armenia, Elizabeth nos recebe e explica as reliquias da sala. Rob, professor de historia, pergunta para ela a respeito do genocidio dos armenos. Ela entao se emociona e conta tudo. Na primeira grande guerra, Alemanha e Imperio Otomano eram aliados. Durante essa guerra, os otomanos convocam o povo armenio. A forca. No dia 24 d Abril de 1915, e' o dia em que mesmo os intelectuais sao obrigados a ir pra guerra. Mulheres e criancas sao obrigadas a marchar por meses da Armenia ate a Siria. Morrem milhares de pessoas. Soldados matam criancas em frente das maes. Maes sao estupradas diante dos filhos. Agua custa dinheiro e, quando entregue algo de valor, a vida era o preco. Soldado cortam as barrigas das mulheres gravidas para ver o que havia dentro.. Um menino sobrevive. Gera familia. Esse e' seu avo. E Elizabeth ate hoje expressa a dor de um povo. O governo turco nega esse genocidio, como se nao tivesse existido nunca. Cada vez mais acredito que a pior violencia simbolica e' o do nao reconhecimento de uma experiencia. E' como se tudo fosse fantasia. O sofrimento psiquico e' transmitido por geracoes. Ela nos mostrou fotos, contou muitas coisas. Fiquei comovido com aqueles olhos profundos.

Em seguida, visitamos as outras igrejas. O museu. Almocamos no lugar do dia anterios, com comida excelente e muito barato. Finalmente, a cidadela. Simplesmente, fantastico. Um forte no alto de uma colina, que dizem ter sido feita pelo Homem. La em cima, uma familia siria me para. Querem saber de mim e de Rob. A cada instante, pessoas nos veem e dizem 'welcome'. Ficam felizes de ver extrangeiros querendo conhecer este pais. Peco pra tirar foto, mas por algum motivo religioso, isso soa indecoroso. Tudo bem. Fica marcado em minha memoria esses momentos de carinho com os forasteiros. Entao, paramos no anfiteatro da cidadela e um grupo de jovens estudantes de linguas (ingles) vem falar conosco. Ficamos um tempao conversando. Rob, que tambem da aula de dramaturgia, teve uma longa discussao com os caras! Foi bem interessante. Antes de sair, mais um sirio se aproxima, mesmo falando pouquissimas palavras de ingles. Nos da uns doces para comer! Entramos no bazar mais umas vez. E vamos a Hamman.

Trata-se das saunas, banhos turcos (nao sei se sao, na verdade, uma tradicao muito antiga - no sec 12 isso ja era costume). Muito relaxante. Te dao uma toalha. Ai, te dao um primeiro banho. Sauna. Outro banho completo, esfoleacao e massagem. Bem legal. Sai de la mais leve e com as dores reduzidas e suportaveis.

Um dia bem gostoso. Amanha, pegamos onibus pra essa cidade que nao lembro o nome. Visitamos as 'cidades fantasmas'. E no mesmo dia, chegamos em Hama.

Estou com uma excelente impressao do pais. As pessoas sao muito amaveis. Receptivas. Ficam contente com a gente aqui. O melhor e' a honestidade. Se fosse no Brasil, a cobica faria um gringo ser roubado ou trapasseado. Aqui e' o contrario. Por outro lado, no Brasil o instinto animal da sexualidade e' liberal, enquanto aqui as mulheres andam cobertas. Ha as que vestem preto e cobrem-se inteiras. As de preto e olhos de fora. De preto e rosto de fora. As de sobretudo de varias cores e rosto de fora. E as que vestem normal (blusa comprida, claro. Uma blusinha por cima e comprida, ate metade da coxa. Sapatinho fashion). Maquiadas. Elegantes. Charmosas. O olhar e' forte. As sirias sao em geral branquinhas, mas nao branquelas igual europeias. Olhos profundos. Belas fisionomias e com tracos suaves.

Por enquanto, so elogios para este pais. O outro lado: trafico caotico. Um pouco sujo. Internet lenta e com censura (nao consigo acessar orkut). Nao vejo muito modernismo e tecnologia super avancada. Claro, e' moderno, mas ao estilo sirio.

Estou gostando de ver os estilos de vestir dos homens tambem. Uns de tunica e chapeuzinho. Outros de chapeu. Varios vestindo normal, igual no Brasil (calca, camiseta ou camisa, sapato). Muitos com barba para fazer.

Vivendo cada dia como se fosse o unico. Cada dia, me ocupando do que farei durante o dia. Amanha, um novo dia..





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